Essa mania que peguei de ficar registrando as conversas que tenho com alguns amigos pode acabar me comprometendo... Mas, ciente de como as pessoas têm um interesse natural – ou seria cultural? – em ouvir conversa dos outros, acabo apostando que esta é uma boa maneira em arregimentar leitores para meus escritos. Foi escrevendo conversas que redigi parte de minha dissertação de mestrado. Ficou curiosa? Curioso? Digite “www.proped.pro.br”, e abrirá o “Programa de Pós” da UERJ. Clique em dissertação. Por fim, digite TKOTZ, em autor. Boa leitura!!! E, depois, se puder enviar uma crítica, um comentário e/ou preferencialmente um elogio... Brincadeiras a parte, essa é uma conversa que me interessa. E, para não perder o costume, vou contar para você uma dessas conversas que venho travando com alguns amigos. Quem sabe você não conhece alguns deles e acaba se animando em participar? Pois foi outro dia... Jorge estava a defender a força das palavras como elementos criadores da realidade: – A aventura que nos conduz à consciência de que o eu não é senão uma contínua criação, uma permanente metamorfose (...) tem sua força impulsora no processo narrativo e interpretativo da leitura e da escrita (...) já não existe um ser substancial a ser descoberto e ao qual ser fiel, mas apenas um conjunto de palavras para compor, e decompor e recompor. (...) A fidelidade às palavras é não deixar que as palavras se solidifiquem e nos solidifiquem, é manter aberto o espaço líquido da metamorfose (...) Só assim se pode escapar, ainda que seja por um momento, aos textos que nos modelam, ao perigo das palavras que, ainda que sejam verdadeiras, convertem-se em falsas uma vez que nos contentamos com elas (Larrosa, 2003:39-40). Extasiada, comentei: – Por isso é tão forte a escolha das palavras, pois, assim como as palavras criam a realidade, elas criam, também, a ficção. E a beleza da ficção é ver realidade nas palavras. No caso de “Ternura e dor: a história de um colégio aionista”, no entanto, esforço-me por engendrar ficção nas palavras, ao idear literaturizar o conhecimento em minha dissertação de mestrado. Jorge continuou, provocando-me, e Clarice, como o tema caminhou para a literatura, veio embelezar a discussão: – Como evitar, então, a suspeita de que a crescente profusão de palavras e de nossas histórias não tem como correlato o engrandecimento de nosso desassossego (Larrosa, 2003:23)? – Cada coisa é uma palavra. E quando não se a tem, inventa-se-a (Lispector ,1998:17). Nossa conversa foi tão profunda que personagens inesperados vieram contribuir. Já ouviu falar de frei Guilherme de Baskerville? Pois, disse ele: – Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade (Eco,1983:552). E Adson de Melk , outro personagem, entrou com uma forte colocação: -[A verdade] outra coisa não é senão a adequação entre a coisa e o intelecto (id.:351). Esquentando, frei Guilherme continuou: - Diante de um livro não devemos nos perguntar o que diz, mas o que quis dizer (id.:361). Jorge não se conteve e voltou à conversa, interessado em provocar você e fazê-la não resistir em se colocar. – O misterioso expressado poeticamente, ao conservar seu mistério, conserva-se como uma fonte infinita de sentido (Larrosa, 2003:75). Agora, preciso ouvir você! Indispensáveis são as suas palavras. Antes, deixo apenas mais informações sobre os amigos que participaram desta conversa. Pode ser que venha a desejar ter uma prosa mais aprofundada... ECO, U. O Nome da Rosa. Tradução de Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. LARROSA, J. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas, tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Silvia Tkotz é professora da Universidade Estácio de Sá e vem acompanhando atentamente as discussões do grupo, sempre trocando idéias aqui no BLOG, sendo convidada para compartilhar com todos um pouco da sua produção.
Os professores, por Valter Hugo Mãe
Há 5 anos