quarta-feira, 16 de julho de 2008

A NARRATIVA EM NOSSA VIDA

Investida na Madrugada
Mais um dia se passa tranquilo. A noite chega. O cansaço bate e eu vou dormir. Estou quase pegando no sono quando começo a escutar zumbidos no meu quarto que vão ficando próximos, cada vez mais próximos.
Vou me concentrando mais e mais nesse barulho que vai aumentando e o sono fica longe de chegar. Que tormento. Incomoda-me de tal maneira que rolo na cama chamando o sono e o sono não vem. É um zumbido aterrorizante e agudo. De repente, ele vem para cima de mim. Fico tensa. Cubro-me com o edredom para espantá-lo...Quem sabe não é minha imaginação trabalhando fora de hora? Passam-se alguns segundos e ele volta a investir. Fico tensa novamente. Estou em silêncio e ouço uma multidão.
Não sei o que fazer, tenho milhares de artimanhas para afastá-los. Nova investida. Meus sentidos me incitam a agarrá-lo, o que quer que ele seja. Não consigo alcançá-lo. Sinto algo de estranho no ar. Por um instante, tudo isso me pareceu real. (Maria Clara L. Barros)
Narrativa: conta que eu conto
A narrativa acompanha a História da Humanidade desde antes de surgir a escrita. Ela é uma tradição oral passada de geração em geração, objetivando essencialmente a transmissão de sabedoria e experiências.
Para Benjamin, a narrativa é uma produção coletiva transmitida para o coletivo. Se falamos que ela é uma experiência, posso retomar nossos debates e complementar que o que vivemos somente se torna experiência se o compartilhamos com o outro. A narrativa faz isso. Quando contamos momentos que marcaram nossa vida, estamos narrando nossa história, transmitindo o que experimentamos e o que aprendemos com isso: são valores, conhecimentos de vida e morais que nos constituem e acabam por influenciar a cosmovisão de nosso interlocutor.
O processo narrativo, antes intrínseco ao Homem, com o pós-guerra (1ª Guerra Mundial) sofre drásticas modificações, assim como o modo de trabalho e de vida. O homem se distancia da experiência, deixa de viver o coletivo e a narrativa se fragmenta.
Na narração podemos encontrar-nos com nós mesmos e nossa origem porque ela tem uma ligação forte com o passado e uma intenção com o futuro. Intenção de nossas experiências não morrerem, caminhando pelas gerações. Para que se conta um conto?
Autora: Maria Clara Lanari Barros

sábado, 12 de julho de 2008

HISTÓRIAS DAS ESCOLHAS DA FLIP

E então... Não é porque temos dúvidas que não fazemos escolhas, não é? Me surpreendi quando ao ler o blog oficial da Flip (aí do lado...) encontrei comentários e gravações dos eventos que não fui e não vi comentários de alguns que fui... Afinal, caro leitor (como nos diria Machado de Assis, homenageado nessa Flip), cada história é UMA história, mas não A história. Assim, cada um conta “de onde” viu, ouviu, leu e viajou... Conto um pouco da história que vivi nesses dias memoráveis.

Olha o Machado aí que não me deixa mentir... (acho eu)

Há muito desejava ir na FLIP mas nunca conseguia... Foi minha primeira vez! E a primeira vez a gente não esquece... Assim, procurei explorar as “artes” da Flip.
Olhem que lindas essas produções das escolas sobre a memória local...

Por falar em memória local, imperdível é a exposição permanente de Bia Lessa na Casa de Cultura de Paraty. A exposição traz fotos, depoimentos de moradores e artistas locais além de mostras de artesanato da região. Quantas histórias não ouvi e vi por ali... Delícia!

Aliás, que casa!! Fiz muita coisa por lá. Assisti a filmes em homenagem a Machado de Assis dos diretores André Kotzel e Nelson Pereira dos Santos com bons debates depois, e as pré-estréias de filmes “Na casa do Tom” de Ana Jobim e “Palavra cantada” de Helena Soldberg. Todos muito bons! Em cada um pensamos sobre a vida e suas histórias, sua poesia, música, loucuras e limites reais e imaginários. Um pouco da muita poesia e literatura que circularam por aquelas bandas...

Além dos filmes, a mesa de debates “Fábulas Italianas” com Alessandro Barico e Contardo Calligaris foi, das que assisti, a melhor.

Caligaris trouxe o quanto todas as leituras são importantes na formação do escritor. Disse, de forma muito simples, que a ficção começou nele aos 7 anos quando imaginava a invasão dos ETs para que não tivesse escola... “A ficção nasce dentro da gente com todos os instintos culturais que vivemos”, ressaltou ele.

Barico apontou que depois do cinema a escrita é outra. Citando a frase “Balzac andava de tanque e eu ando de moto” comentou que os escritores que trabalham na lógica do cinema sabem que seus leitores já tem as imagens... Assim, a escrita é mais enxuta mas nem por isso menos rica. Agora destaca que é preciso que se vejam nas situações de vida matrizes de histórias e isso a literatura, segundo ele, ainda faz melhor do que o cinema talvez porque “mostre menos”.

Para encerrar fica a colocação de Caligaris em resposta a perguntas da platéia sobre para que serve a ficção. Quem pergunta, provavelmente não experimentou a sua função, porque do contrário não perguntaria... A sua resposta foi magnífica: “as ficções que lemos têm a função de enriquecer a ficção da nossa vida. Somos feitos e fabricados por ficções”. E para nós: que ficções fabricaram a sua vida? Ou você pensa que sua vida é só essa realidade nua e crua do cotidiano?

Teria muito mais para contar e mostrar... Deixo algumas frases de divulgação do filme “Palavra Cantada”:

Esperando que as palavras sejam a pátria de muitos e sempre cantem e voem por aí...

Que os ventos levem e tragam sempre outras boas histórias...

Assim...

Ou assim...

Ou de muitos outros jeitos e formas... Correndo à boca-miúda... Fabricando ficções em nossa vida... Em muitos outros lugares... E sempre!

Adriana Hoffmann

quarta-feira, 9 de julho de 2008

IMAGENS, HISTÓRIAS e LEMBRANÇAS

As muitas caras e cores da FLIP 2008

Me inspiro no texto postado anteriormente para relembrar bons momentos vividos na FLIP (Festa Literária de Parati) em 2008. E tento, dessa forma, através das imagens “lembrar com a sensibilidade do presente, revivendo detalhes e recolorindo os cenários” do que foi vivido. Procurarei contar uma história com imagens através das fotos dos momentos vividos. Um momento cheio de histórias, muitas histórias!!

Expressas assim na liberdade dos livros nas árvores...

Mas que história escolher??

Essa está legal!!

Ou essa com o Flautista?

Ou então com o Chico dos Bonecos...

Ou com os bonecos da FLIP?

Mas quem ama tem dúvidas... E já que...

Duvido que saberiam como escolher!!

PASSADO, A LIMPO

O movimento da lembrança reflete em algumas pessoas um sentimento de nostalgia. Talvez pela felicidade dos momentos que existiram, talvez pela representação que determinada fase deixou. Lembrar é olhar para nossa existência passada com a sensibilidade do presente, reviver detalhes, recolorir os cenários, reconstruir aventuras, ouvir a música que traz o coração.
O menos importante é a polaridade das lembranças, porque, positivas ou negativas, pautam o que somos hoje. Sobre isto temos total autoridade: podemos perfeitamente fortificar as coisas boas que as lembranças nos impõe e do mesmo modo, modificar o que julgamos equivocado. Muitos sofrem por desconhecer que o passado não é passível de transformação lá no passado, mas aqui no presente, através de novas realizações. Lembramos de uma linda canção de Chico Buarque, chamada Maninha, que diz com inspiração celestial: "Se lembra da fogueira, se lembra dos balões, se lembra dos luares dos sertões... Se lembra do futuro que a gente combinou, eu era tão criança e ainda sou". O futuro que combinamos - vestido de presente - pode não ser o mesmo que planejamos, mas o futuro que combinarmos agora só depende da nossa capacidade de olhar as estrelas sem descuidar dos sinais de trânsito.
Lembranças são sempre muito importantes, através delas podemos planejar novas ações no presente que certamente modificarão o futuro. Tudo dependerá da forma como encaramos esse desafio. Porém, muito mais do que isso as recordações, principalmente dos momentos agradáveis (que precisam ser reforçadas), nos fazem reviver sensações de um tempo que não volta mais. Contudo não está morto, pois pode ser revivido com muita intensidade sempre que desejarmos.
Sim é uma verdade estarmos sempre a lembrar de alguma coisa, nossa mente nunca está vazia, estando cheia, só pode estar preenchida por uma experiência vivida. E é o que traz a estória “Retrato em Escadinha” que já se tornou uma lembrança, lembranças relatadas de um alguém, lembranças que não experimentamos e que nos conduzem as nossas próprias recordações. Recordações simples de um cotidiano vivido que por muitas vezes não lembramos por serem tão simples, mas quando lembradas são cheias de significados. Quanto significado tem uma foto geralmente tiradas em locais de muito sentido para a gente, como diante de tantas portas onde no decorrer de nossas vidas tiramos fotos, portas estas de locais representativos, da casa dos avós, da escola, de nossa própria casa, de uma casa de uma tia distante que não se conhecia e que tanta magia trouxe para aquele domingo, ou seja retratos diante de portas que guardam lugares por de trás, onde moram lembranças inesquecíveis.
Diante disso, podemos dizer que recordar é viver e reviver momentos felizes e difíceis em que temos a possibilidade de agirmos sobre, avaliando e reavaliando nossas ações e reações. Dessa forma, crescemos e nos transformamos e, nesse movimento de relembrar, nos encontramos com nosso eu mais profundo. Reencontrar-se consigo mesmo não é tarefa das mais fáceis, contudo bastante importante para planejar nossas ações futuras, nossa vida, para sabermos que objetivos temos para nós e que caminhos pretendemos seguir.
Na forma de memórias ou lembranças, podemos constatar o quanto crescemos e o quanto aprendemos até aqui. De vez em quando é importante realizarmos um “balanço” de nossas vidas e identificarmos o que vale ou não a pena continuarmos guardando (relembrando). Fundamental, periodicamente, esvaziarmos nossas gavetas, jogarmos um monte de coisa fora, queimarmos o que não presta mais, darmos o que não nos serve, desimpedirmos nosso espaço. O que é bom sempre permanecerá no coração e mente, cada momento vivido é ímpar, especial, basta aproveitarmos ao máximo o que nos é oferecido. Aquela música, perfume ou lugar poderá nos levar a um revival muito peculiar ao clima experimentado. Ou seja: nossa vida é uma constante retrospectiva de eventos – uma forma muito humana de nos reconstruirmos.
O que é o passado, senão, uma referência para o presente e o futuro? Ele pode vir carregado de uma dose de arrependimentos por tantas coisas que não decidimos, que não tivemos coragem de enfrentar ou maturidade para assumir. O fato é que se “olharmos demasiadamente para trás”, podemos nos esquecer essencialmente do agora. Nossos anos de existência devem melhorar-nos constantemente, aperfeiçoar-nos, tal qual uma pedra é lentamente lapidada pelo ourives. Nunca deveremos deixar de valorizar nossa história de vida, e mantermos um carinho por nossas anamneses, sem culpas ou frustrações. Passado, a limpo.

Autores: Paola Fávero, Julian, Monique, Célia, Maria Clara e Giancarlo.

terça-feira, 8 de julho de 2008

UMA HISTORIA DE LEITURA PERIGOSA...

A imagem de minha avó naquela manhã de 1968 guardo até hoje na minha memória, e só tinha seis anos de idade.
Minha avó paterna tomada por um sentimento de proteção materno muito intenso, queimou um dos poucos livros que existiam na casa em que eu morava com meus pais e irmãos. Logo aquele livro que de vez em quando eu folheava, não lia ainda direito, mas ele me atraía, era maior que a maioria dos livros que possuíamos, com a capa vermelha com imagens de um país muito diferente e de pessoas, que na época, acreditava serem japonesas, olhos puxados para mim era sinônimo de pessoas japonesas.
Na época a única explicação que tive sobre a atitude intempestiva de minha avó, que normalmente era uma pessoa tão doce e tranqüila, era que o tal livro era muito perigoso. E de imaginar que por tantas vezes estive com ele nas mãos sem desconfiar que ele fosse tão poderoso ao ponto de despertar em minha avó tamanha ira... Foi o meu primeiro e mais significativo contato com um livro apesar de não ter o lido e não ter entendido nada do que estava se passando.
Só fui descobrir sozinha o que representava tal acontecimento doze anos depois quando vozes e livros começaram a falar e a contar a história daqueles anos chamados de chumbo e que para mim passaram tão leves. Descobri por fim o nome do livro “A Revolução Cultural na China”de Mao Tse Tung. É, minha avó tinha razão, a razão de uma época.
O meu desejo pela leitura não foi, apesar do episódio acima, construído no meio de livros e de leitores, nada disso ocorreu, tínhamos apenas alguns livros na sua maioria destinados a pesquisas da escola, jornais no fim de semana que meu pai lia, mas muita, muita música, e acho que foi aí que o meu gosto pela leitura foi se desenvolvendo.
Meu pai adorava música e sempre aparecia com um disco novo em casa. De Chico Buarque ele trouxe “Construção” lançado em 1972, eu cantava todas as músicas, lia as letras na contra capa e ficava a cantar o dia inteiro, para desespero de todos. O de Noel Rosa que fazia parte de uma coleção de grandes clássicos do samba, era também um dos meus preferidos, não era uma coisa muito normal uma menina gostar de cantar um músico do início do século, enfim... Hoje eu sei que a música foi minha grande companheira na infância, e até hoje quando a escuto tenho uma sensação muito boa de paz e tranqüilidade.
Da música, que tanta satisfação me proporcionava, passei por volta dos catorze anos a conviver, na casa de meus avós, com os livros de minha tia que freqüentava o curso de Letras. Ela organizou em um pequeno quarto a sua pequena biblioteca, que contava com vários títulos. Quando ia para casa de meus avós ficava horas a fio olhando cada livro daquele pequeno e ao mesmo tempo tão grande espaço. Aquela pequena biblioteca tinha um cheiro que era só dela, que agora vem na minha lembrança. Foi lá que conheci vários autores como Hermann Hesse, Franz Kafka, Manoel Bandeira, encontrei Jorge Amado, e muitos outros.
A partir daí, sempre estava lendo um livro que passou por vários estilos, como aos dezesseis anos onde o budismo estava sempre presente, passando para os livros que foram relançados com a abertura política, onde fiz grandes descobertas da vida política e social de um período em que era criança, inclusive do misterioso livro vermelho. Hoje continuo lendo, sempre de acordo com o que estou vivendo, e com os interesses que vão surgindo e concordando com minha avó, mas comemorando: o livro é muito perigoso!
Célia Maria Ribeiro
Para ampliar a reflexão veja o vídeo...