Nesse momento trazemos aqui reflexões e resumos sobre algumas de nossas leituras. Célia, uma das integrantes do grupo resume e reflete sobre os modos de ser leitor inspirada na leitura que fizemos de Lúcia Santaella.
Enquanto analisávamos as entrevistas realizadas por nosso grupo de pesquisa, tínhamos em mãos o texto de Santaella (2008) que nos ajudou a entender as habilidades de leituras praticadas pelos entrevistados e também nos mostrou como transitamos pelas três modalidades que ela destaca.
Estar diante de livros, seja diante de uma pequena estante, numa biblioteca, ou ainda mais comum hoje em dia, numa livraria, e até mesmo em uma banca de jornal, onde podemos encontrar alguns livros, nos leva a algumas transformações sensoriais. Se estamos ali, diante dos livros, é porque desejamos continuar ali, e para permanecer ou entrar em contato com eles há necessidade de se adaptar à eles: devemos dar-lhes nosso tempo, por alguns minutos, que seja, adquirindo uma postura contemplativa diante do livro. Nesse momento, como ressalta Santaella, os sentidos reinam soberanos, principalmente a visão. É o livro é que nos conduz, estamos em suas mãos, mas também, por outro lado, depois que o possuímos pela leitura ele passa a ser nosso e posso revisitá-lo quantas vezes desejar. O mesmo ocorre quando estamos diante de pinturas, gravuras, obras de arte em geral em que a contemplação se faz necessária. Santaella afirma que essas habilidades nascem no Renascimento e perduram, hegemonicamente, até meados do século XIX.
Ao mesmo tempo em que possuo essa habilidade que freia o tempo e me concede a capacidade de contemplar o que ali está exposto, dou um salto e sou capaz de fazer a leitura rápida de um jornal, de um noticiário de TV, das inúmeras imagens que se espalham pela cidade, sendo essas leituras ágeis como o próprio tempo que não permite ser parado. Vamos captando várias mensagens e dispensando, é claro, a grande maioria, não temos o tempo e o espaço para a contemplação como nos livros pois as próprias imagens não permitem que as exploremos com calma. Tudo é muito rápido e uma notícia de agora, daqui a meia hora, já poderá ser descartada. A imagem pela qual passamos na rua fica para trás rapidamente, talvez na volta possamos captar mais algum detalhe que nos revele a mensagem desejada. De acordo com Santaella, há uma isomorfia entre o modo que o leitor se move na grande cidade, o movimento do trem, e do carro e o movimento das câmeras de cinema, que reproduzem esse movimento ágil e frenético das imagens. Tudo isso fruto da industrialização, que se refletiu cinema, no jornal, ou seja, na reprodutibilidade técnica de que também fala Benjamin.
Santaella traz, por fim, a mais atual modalidade de leitor, o virtual, um leitor que não lida mais com a concretude e permanência dos livros, dos jornais, e das imagens. Agora para ser esse leitor devo estar aberto e disponível para um mundo inesgotável de informações, adquirindo, a cada dia, mais habilidade em penetrar nessa rede, mas também muitas vezes me perdendo nela. Onde li isto? Onde vi aquela imagem? Links que se abrem, que por muitas vezes são irrecuperáveis, como se estivéssemos caminhando em uma mata densa em que em algum momento não soubéssemos que trilha tomar para recuperar o percurso feito numa leitura. Se já havíamos reavaliado nosso conceito de tempo, que era lento e tão contemplativo e se modificou com a industrialização, com a reprodução de imagens e a rapidez da imprensa, agora ele está totalmente mudado, e a qualquer hora e em qualquer espaço tomamos posse de uma informação tornando-nos autônomos na sua procura.
Somos, portanto, esses vários leitores que fazem suas leituras de acordo com o suporte oferecido. Somos tantos... O acúmulo de habilidades construídas na história da humanidade pela busca do conhecimento, e hoje mais do que nunca, pela informação.
Célia Ribeiro
Fontes:
SANTAELLA, Lucia. A leitura fora do livro. Disponível em:
http://www.pucsp.br/pos/cos/epe/mostra/santaell.htm; acesso em 3 de maio de 2008.