domingo, 12 de abril de 2009

Contar e circular histórias – um movimento de formação de leitores?

É impossível ler o conto de André Aguiar e não ficar se questionando sobre tantas coisas que o texto suscita. E foi o que ocorreu conosco do grupo leitura e formação em nosso último encontro.
Tomar para a nossa discussão semanal “Os contadores circulares” nos levou a inúmeras reflexões, que surgiram da interpretação individual de cada um em sua silenciosa leitura, digo silenciosa, pois apesar do texto ter sido lido, inicialmente, em voz alta por um integrante do grupo, as leituras pessoais estavam traçadas em subjetividades próprias que se fizeram presentes.
Várias interpretações surgiram, inúmeros porquês se fizeram presentes na tentativa de se saber o que o autor estaria tentando dizer em determinado momento, mas no decorrer da discussão esquecíamos aquela que considerávamos ser a intenção do autor e mergulhávamos naquela sim, que era a verdadeira intenção do autor, que extrapolava uma autoria, mas congregava diversos autores e conseqüentes narrativas para aquela que inicialmente consideramos “a narrativa”. Pandegas e seus contadores de histórias a construir suas vidas de acordo com narrativas ouvidas e coletadas. Não seria assim a nossa própria vida, a vida desse ser individual em sua trajetória pela existência?
Somos sim pedaços de tantas narrativas de tantos autores, só que não tomamos para nós integralmente suas narrações, fazemos delas as nossas próprias e únicas banhadas por mais tantos outros que já estão em nós e que venham a eles se juntar. Não seria cada vida cercada por narrativas circulares que ampliam nossos olhares e nosso viver?
O conto de André nos permitiu fazer a “ponte” com o conceito de narrativa que discutimos pela leitura de Walter Benjamin. Afinal, o que significaria o contar deixar de ser oral e encerrar-se no livro como no conto de André? O que Benjamin diria disso?
Pelas leituras que já fizemos de Benjamin, ele afirma que quando o contar deixa de ser oral, para se transformar em linguagem escrita, pode perder a essência da narrativa, passando a ser informação transmitida a outros, sem a necessidade de se reunir e compartilhar experiências. A narrativa tem a prerrogativa desse compartilhamento de experiências. Quando não ocorre este compartilhar, ela morre e com ela a história. Será que foi esse o motivo de Pândegas ter se dobrado em si como um livro?
As histórias em Pândegas começaram a ser exportadas em materiais impressos. Era tão grande a preocupação de não perder as histórias que os pândegos podem ter deixado de narrá-las para o seu próprio povo, transformando-as meras informações.
Ao ouvir a narrativa, nos pusemos a pensar e refletir sobre a história e as experiências dos pândegos e o porquê de Pândegas ter acabado. Automaticamente essa narrativa começou fazer parte das nossas vidas, entrelaçando- se com as nossas próprias histórias e experiências vividas no projeto e entrevistas já realizadas. Benjamin relata que as narrativas são assim: as pessoas se apropriam das histórias umas das outras, modificando- as, transformando-as em suas próprias experiências.
Assim como no conto de André Aguiar, podemos pensar nos entrevistados em nossa pesquisa e suas experiências com as narrativas. Quais deles viveram ou vivem uma experiência do ouvir e do recontar as histórias vividas, lidas, refletidas? Quais deles vivem a sua relação com a leitura como “experiência” e quais vivem a leitura como algo com pouco significado, sem essa relação viva com o contar? E, quando a partir de situações como a de filmes como o “Narradores de Javé”, a escrita passa a ser necessária na vida das pessoas para fazer/marcar a história delas ou a de um povo que, sem ela, morreria?
Célia Ribeiro e Monique Carnevalli

5 comentários:

Sabrina disse...

Finalmente consegui ter tempo para ver o BLOG com calma e adorei!
Beijos,
Sabrina

Adriana Hoffmann disse...

Célia e Monique,
Parabéns pelo belo texto muito bem escrito!
Beijos,
Adriana

Anônimo disse...

Sabrina,
Muito bom saber que você aí em Minas conseguiu nos visitar. Seja sempre bem-vinda!
Beijos,
Adriana

Monique Carnevalli disse...

Obrigada Adriana. A cada trabalho devemos procurar amadurecer os conhecimento adquirido.

Adriana Hoffmann disse...

Monique,
O investimento de vocês é que proporciona esse amadurecimento do conhecimento de que você fala. Não se amadurece sem investir, assim como também não nos formamos como profissionais sem esse investimento. Um curso superior não forma um bom profissional, experiências como as que estamso vivendo mostram o quanto podemos ampliar essa formação, não? Parabéns de novo!!
Beijos,
Adriana