quarta-feira, 1 de abril de 2009

Entrevista com Laerte Vargas – Contador de Histórias (parte 1)

Trazemos o início da entrevista realizada pelo grupo do PIC com o contador de histórias, facilitador de Oficinas e Pesquisador de Literatura Oral, Laerte Vargas.

Equipe PIC: Laerte, tomamos conhecimento do seu trabalho através da professora Adriana Hoffmann, que realizou curso ministrado por você na Casa de Leitura sobre contação de história, há alguns anos. Em grupo, visitamos o seu blog e cada um pensou numa questão que gostaria de lhe apresentar para conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória e o seu trabalho. Há quanto tempo você trabalha com contação de histórias? Como começou seu "namoro" com as histórias?

Em 1994 eu ouvi o grupo Morandubetá contando histórias no Centro Cultural Banco do Brasil e nunca mais parei.

Equipe do PIC: Navegamos pela sua página (Blog do Gandavo) na internet e gostamos muito. Temos muito interesse pela prática de contar histórias e nosso grupo já esteve, inclusive, realizando oficinas com histórias para professores em eventos da área educativa. Você acha que o professor, para desenvolver essa prática em sala de aula, tem que ser um apaixonado pelas histórias, sejam elas contadas através de qualquer linguagem? Será que as escolas não deveriam constituir grupos de professores que se identificassem com essa prática para que fossem desenvolvidas, junto aos alunos e aos próprios professores, um trabalho de contação de histórias?

LAERTE: O prazer pela leitura e pela contação de histórias não é algo que possa ser impingido a alguém. Também não é possível forjar brilho no olho ao dar voz a um conto. Esse "reluzir" vem da relação que o contador estabelece com a história escolhida.

Já trabalhei com muitos grupos de educadores que não sabiam que gostavam de ouvir histórias, pois na sua formação não havia existido a figura do contador. Num primeiro momento, é mais importante contar histórias do que formar contadores. À medida que a plateia para as sessões de histórias for aumentando, o desejo por contá-las também crescerá. Muitas vezes, as instituições, no afã de fomentar o trabalho com a leitura , vão promovendo seminários, maratonas, mas não ficam atentas à possibilidade de descobrir dentro dos grupos pessoas realmente dotadas do desejo para levar adiante o trabalho de contador de histórias. Isso faz com que as oficinas de contadores de histórias se tornem mais um curso que "um dia eu fiz numa maratona de leitura" e o investimento nos profissionais realmente imbuídos de se aprofundar na linguagem não acontece. A carga horária mínima para a formação inicial de um contador de histórias é de 20 horas e nesses evento s eles vivenciam, no máximo, workshops de 4 horas.

O trabalho do contador implica em muita pesquisa, aquisição de livros, tempo para trabalhar as histórias e formar um repertório.

As escolas querem que o professor se desdobre, abrindo mão do tempo escasso que tem para ficar com os filhos para trabalhar histórias. Se não tiver remuneração, o professor não vai abrir mão da prestação da televisão de tela plana, por exemplo, para comprar livros.

Quanto às outras linguagens, acho válido se o professor já tiver experiência no assunto e bom gosto. Do contrário, o tiro pode sair pela culatra.

Contação teatralizada e teatro contado pra mim é "conversa pra boi dormir".

Já vi apresentações que fizeram os adolescentes saírem correndo para não pagarem mico e as crianças rirem do patético a que os educadores se expunham.

Bom senso e simplicidade na hora de contar são fundamentais.

Equipe PIC: Na sua opinião, qual o papel da contação de histórias na formação do leitor?

LAERTE: A contação de histórias é o livro vivo que também pode ser encontrado na prateleira da sala de leitura. Esse livro pulsante, que tem olhos, gesticula e interage com a criança, é a primeira grande ponte para o livro impresso.

2 comentários:

Célia Ribeiro disse...

Laerte Vargas veio com suas respostas, contidas na entrevista elaborada pelo nosso grupo "Leitura e Formação", iluminar uma prática tão importante a formação de leitores e narradores.
Adorei!!!
Célia

Adriana Hoffmann disse...

Que bom que gostou,Célia!!
Beijos,
Adriana