Trazemos neste momento a continuidade da entrevista realizada pelo grupo do PIC com o contador de histórias, facilitador de Oficinas e Pesquisador de Literatura Oral, Laerte Vargas. Aproveitem!
Equipe PIC: Algumas integrantes do PIC fizeram oficina com a Bia Bedran e ela deu dicas aos professores de como contar histórias para os alunos. Que aspectos você acha relevantes para nós, professores, na hora de contar histórias para os alunos?
LAERTE: Muitos, mas o mais importante é que a "hora do conto" não deve ter cara de aula. Apesar de ser uma das mais expressivas ferramentas de ensino, a contação de histórias deve ser um espaço para o lúdico e o tempo para cada ouvinte "jiboiar" a história tem que ser respeitado.
Muitas vezes ouço relatos de professores que cumprem a exigência da coordenação da escola de promover uma atividade logo após a história e, na maioria das vezes, é o desenho ou a dramatização. Calma... Devemos trabalhar com o elemento surpresa: um dia pode ser um desenho, no outro uma dobradura, uma modelagem ou apenas um espaço para ouvir histórias. Se o aluno fica condicionado a fazer um desenho logo após a narração, corremos o risco de fazê-lo usar o tempo da contação para resolver qual desenho vai fazer.
Nada de "vou contar a história e depois vocês vão fazer um desenho bem bonito" ou então "vamos ouvir uma história e fazer um teatrinho depois".
Isso me faz lembrar de um outro aspecto ao qual devemos ficar atentos: nunca impregnar a história de diminutivos. Isso distancia a criança do narrador, parece que e o educador está lá em cima preservado no seu mundo de adulto e a criança lá embaixo, onde tudo é excessivamente pequeno.
Sou de uma geração escravizada pelos frios exercícios de fixação do texto, pontuados por perguntas do tipo "quem é o protagonista ou quem é o antagonista".
As fichas de leitura que vêm encartadas nos livros devem ir direto para o lixo. Elas negam a individualidade do leitor e não ampliam as possibilidades de leitura de um texto.
O repertório do educador é adequado procurar não estar impregnado de narrativas excessivamente pragmáticas e doutrinárias e, sim, ter a intenção de suscitar o prazer de compartilhar olhares de outras culturas, jeitos de pensar e entender a vida diferentes do nosso. Nisso, a escolha da tradução do conto é determinante para os bons resultados da sessão. E sempre contar histórias populares, claro. Elas são o nosso primeiro leite intelectual, já dizia Câmara Cascudo.
Equipe PIC: Você tem algum artigo ou livro publicado sobre contação de histórias? Onde podemos encontrá-los?
LAERTE: Publico artigos regularmente no meu boletim eletrônico: http://contadoreshistorias.spaces.live.com e em sites de Educação e Literatura Infantil. Acho que, em algum momento, eles vão virar uma publicação em papel. Mas confesso: morro de medo de virar um livro de receitas sobre a forma ideal de contar histórias.
Equipe PIC: Como você vê, nosso blog se refere ao trabalho de uma pesquisa que estamos realizando sobre a formação do leitor em diferentes espaços. Na sua opinião e a partir da sua experiência, quais seriam os melhores espaços para esse processo formativo?
LAERTE: A ambiência da sala de leitura, desde que não seja uma biblioteca demasiadamente sisuda, com um silêncio avassalador imposto, é a mais convidativa. Leitura é alimento: a contação é a entrada e os livros são o prato quente. Almofadas espalhadas pelo chão, livros em cestos com as capas se oferecendo para a leitura e ao alcance da mão da criança são elementos que contribuem para essa intimidade. Lombada de livro não convida a criança à leitura.
Equipe PIC: Como você avalia os programas do governo que procuram desenvolver a leitura, como o Proler, o Biblioteca na Escola, o Olimpíada de Língua Portuguesa, dentre outros?
LAERTE: Qualquer programa que seja em prol da formação de novos leitores é válido.
No entanto, a maioria deles é a repetição de práticas que já têm um tempo de estrada. As vaidades pessoais fazem com que, a cada nova gestão, seja pulverizada a ação anterior e se dê a impressão de que tudo até o presente momento foi errado ou mal feito. Isso dizimou vários programas que vinham trazendo resultados expressivos.
Não conheço de perto os programas citados, mas participei proximamente do Proler, ministrando oficinas de contadores de histórias por todo o Brasil e dinamizando grupos de leitura. A emoção com a qual cada cidade e os educadores nos recebiam, o esforço para tornar mais calorosa a educação e a descoberta de outras possibilidades para a promoção da leitura ficaram como um dos registros mais expressivos da minha trajetória de arte-educador.
Mas... Um dia veio a bruxa má, bruxa má, bruxa má. Um dia veio a bruxa má. Bruxa má. (...)
(...) E o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor... E o mato cresceu ao redor, ao redor.
Depois disso, uma grande sensação de orfandade acometeu os contadores de histórias, agentes de leitura e educadores.
E vocês, o que acharam da nossa conversa com Laerte? Estamos aguardando suas reflexões e opiniões!
Os professores, por Valter Hugo Mãe
Há 5 anos
4 comentários:
Oi Adriana,
Gostei muito da entrevista. Acho que o blog é muito interessante.
Quero destacar o vídeo da poesia de João Cabral de Mello Neto.
Abraços
Terezinha
Oi Terezinha,
Fico feliz que tenha gostado da entrevista e do BLOG.Apareça sempre! Seja bem-vinda!
Beijos,
Adriana
A entrevista ficou maravilhosa. Nosso grupos de D+!!!!
Ficou boa mesmo,não Monique??
Parabéns a todos do grupo que colaboraram!
Beijos,
Adriana
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