quarta-feira, 22 de abril de 2009

O exercício da análise – pensar, trocar, repensar – novo desafio (parte 1)

Trazemos nesse momento dividida em duas postagens a reflexão que Célia Ribeiro, umas das integrantes do grupo, escreveu a partir das discussões vividas em nosso último encontro. Leiam e participem!

Iniciamos essa semana a análise das entrevistas. Dessa vez estávamos apenas Monique, nossa orientadora Adriana e eu. Iniciamos categorizando a entrevista de acordo com a questão que deverá ser analisada. Mas não pensem que esta é uma tarefa tão simples como num primeiro momento pode parecer, como pareceu para nós, pelo menos para Monique e eu.

Tomamos uma entrevista para esse encontro que nos revelou ao final uma surpresa mas, para que essa surpresa se revelasse, foi preciso um tempo. Tempo esse preenchido em meio a discussões que começaram frias e que, com o entrelaçar de nossas análises, foram ficando amenas e entraram em um ritmo ininterrupto, tal qual uma máquina que custa a funcionar, mas que depois de algum tempo de funcionamento parece que adquire ritmo próprio dando a impressão que não mais parará, a não ser que a desliguem.

Iniciamos com a primeira categoria, ou seja, verificar qual o conceito de leitura que o primeiro entrevistado traz em sua fala. Verificamos inicialmente, por meio de sua resposta, que seu conceito de leitura está vinculado à noção de leitura daquilo que não se conhece, ou seja, a leitura de vidas e de histórias por ele não vivenciadas como se os livros o transportassem para mundos desconhecidos.

Diante do relatado demos início a sua análise. Fizemo-nos algumas perguntas a fim de clarear a fala do entrevistado. Seria um ideal de leitura o que ele descreve? Que relação haveria entre o que ele entende como leitura e a forma como ele a vive em seu cotidiano? Portanto, de imediato partimos para a seguinte categoria que nos daria pistas mais concretas acerca do que representaria a leitura na vida do entrevistado. Quais seriam enfim as leituras e narrativas vividas por ele?

Foi nesse ponto que começamos a desvendar a primeira questão. Ao nos relatar que suas leituras se restringiam a livros técnicos, desconfiamos de sua conceituação inicial a respeito da leitura. Como classifica a leitura como uma oportunidade de mergulho em mundos e histórias desconhecidas, não estaria seu conceito de leitura associado a um ideal, baseado no senso comum ou representações construídas na sociedade a respeito do tema, sobretudo dentro da universidade? Neste ponto já estávamos totalmente envolvidas por essas questões. Percebíamos inclusive que a leitura de livros técnicos relacionados à sua atividade profissional se devia à dificuldade, afirmada pelo próprio entrevistado, de dar sequência à leitura, sendo a concretude da leitura técnica mais facilitadora.
Célia Ribeiro
Isso é apenas o começo... Na próxima tem mais! Esperamos a contribuição de vocês do PIC e dos nossos leitores de fora do grupo também. As trocas podem ampliar nossa discussão.

7 comentários:

Sandra La Cava disse...

A todas do grupo, especialmente a Célia, que apresentou o registro,

Gostei de ver o movimento de análise iniciado! Realmente, a categorização facilita o trabalho de análise do discurso. Permite que as idéias fiquem mais organizadas, a fim de que o trabalho de análise não se perca. Este é o esforço da análise do discurso de quem se manifesta. O trabalho científico exige tal disciplina por parte de quem analisa. Não se pode afastar da teoria que sustenta a investigação. Por isto, o trabalho científico apresenta a fundamentação teórica que o subsidiou. Para não dar margem a equívocos epistemológicos. Isto se torna importante devido às diversas contribuições teóricas possíveis, a respeito de todas as temáticas: a fundamentação é um delimitador de espaços de investigação. Assim, as subjetividades ficam contidas e, na medida do possível, tornam-se menos invasoras da interpretação!Os achismos não tem espaço neste tipo de trabalho...Este é o grande esforço do pesquisador...Atentar aos dados à luz da teoria que o sustenta. Continuem em frente, lembrando-se destas reflexões sobre o trabalho científico e sua metodologia.
Estou com pena de não poder acompanhar de perto este momento...Mas nem tudo nos é possível!
Sigam em frente!
Sandra

Monique Carnevalli disse...

Célia é mesmo muito difícil fazer as análises das entrevistas. Nosso último encontro foi muito proveitoso. Pude aprender na prática como devo fazer com a minha monografia. A Adriana nos ensinou muito sobre como fazer a análise dos dados. É bom podermos contar com alguém que divida conosco tanta sabedoria. Sandra, também sentimos sua falta. Esperamos, em breve, poder contar com a sua presença.

Célia Ribeiro disse...

Adriana e Monique,
Já havia passado por essa experiência de análise de entreveistas em minha monografia, mas confesso que dividir essa tarefa com vocês, no caso dessa pesquisa, foi muito melhor, é incrível como compartilhar olhares enriqueceu nossa análise. Quanto a fundamentação teórica, Sandra, ela já começará a aparecer na segunda parte do texto, você verá no relato que ela já estava presente em nossa discussão no último encontro. Por falar nisso, sentimos sua falta nessa proveitosa discussão, mas entendemos esse seu momento.Ficamos satisfeitas em saber que de longe nos acompanha, já que suas orientações são sempre importantes.
Bjs

Adriana Hoffmann disse...

Puxa!!Adorei ver todas vocês por aqui... Obrigada também por ter de novo os comentarios de Sandra. Estava sentindo falta, assim como todas do grupo.Como você bem lembrou Sandra, toda análise tem como base um referencial teórico. Nesse momento inicial de análise estivemos ancorados nas leituras de Benjamin e Sônia Kramer.No entanto nessa primeira parte do relato de Célia, como ela bem lembrou nos comentários, as referências teóricas não apareceram. Como o texto ficou bem grande não era possível publicá-lo todo de uma vez no BLOg. Essas primeiras impressões registradas por ela referem-se a uma aproximação inicial da entrevista antes da confrontação com a teoria propriamente dita. Nesse momento apenas buscamos relações entre as respostas do entrevistado que diziam respeito às categorias já levantadas percebendo suas contradições e questões e levantando hipóteses para a continuidade do caminhar da análise. Vou aproveitar e publicar o restante do texto de Célia para vocês verem,OK?

Adriana Hoffmann disse...

Monique e Célia,
Foi muito bom poder iniciar essa análise com o olhar atento e participante de vocês! Nesse processo nós, Sandra e eu, somos as orientadoras mas a análise está sendo feita com a participação e reflexão valiosa de vocês. Sem ela, nada disso estaria acontecendo. Aprender juntos - em comunhão - como já dizia Paulo Freire,traduz o verdadeiro sentido da aprendizagem.

Monique Carnevalli disse...

Adriana apreder junto é sempre muito bom, mas é claro que precisamos de uma ajuda. Ter pessoas tão sabias e dedicadas como você e a Sandra por perto é sempre muito bom. Obrigada por nos ensinarem tanto.

Adriana Hoffmann disse...

De nada, querida! Ficamos muito felizes de ter alunas dedicadas e interessadas como você. Como professoras sabemos que alunos assim são "jóia rara" que temos que cuidar sempre muito bem,né Sandra?
Beijos,
Adriana