sexta-feira, 24 de abril de 2009

O exercício da análise – pensar, trocar, repensar – novo desafio (parte 2)

Trazemos nesse momento a continuação do relato de Célia Ribeiro, integrante do grupo, a respeito do primeiro exercício de análise que iniciamos com o grupo. Esse é o final de seu relato.
A partir daí trouxemos para a nossa discussão o conceito de leitura “como experiência” de Sônia Kramer, que veio clarear o nosso olhar. Segundo Kramer, que se baseia no pensamento de Benjamin, uma leitura formadora passa pela experiência do sujeito e transforma-a. Uma leitura "como experiência", segundo a autora, deixa rastros, desperta reflexões e relações, deixando algo novo dentro de nós. Colocamos então a seguinte questão: até que ponto o entrevistado pratica a leitura “como experiência”?
Estávamos nesse ponto já com algumas "pistas" a respeito das duas categorias que nos propomos a analisar nesse encontro, quando o motor de nossas discussões nos levou a mais algumas reflexões e a tal surpresa que mencionei no início desse relato(na postagem anterior). Se o entrevistado, como nos falou, e como verificamos, apresentava um ideal de leitura que aparentemente não aparecia em sua prática, a narrativa oral, que tanto discutimos nesses meses dedicados à pesquisa com base no pensamento de Benjamin, estava ali claramente presente. No entanto, de início não atentamos para esse fato.
Estávamos enfim diante de uma pessoa que utiliza prioritariamente a narrativa oral para partilhar suas experiências assim como Benjamin nos falava acerca do Narrador. A cada pergunta feita pelo entrevistador ele contava uma história realmente experienciada. Falava também de sua experiência com o teatro e alguns textos teatrais, já que depois afirmou fazer parte de um grupo de teatro também. Nas situações relatadas pelo entrevistado muito poderíamos analisar, segundo o pensamento de Benjamin, como a associação do que contava e do que lia com um interesse prático relacionado com o seu próprio ofício assim como também, no caso do teatro, que era utilizado por ele para transmitir sua experiência de vida.
Portanto, tão imersas estávamos em nossas reflexões que vieram somar a elas outros exemplos que nos acompanharam nessa trajetória, como por exemplo, o filme Narradores de Javé que disponibilizamos algumas cenas em nosso blog e que traz seus personagens tentando manter viva uma cidade através das histórias narradas, como tão bem Monique, oportunamente, associou à cidade de Pândegas do conto de André Aguiar. A questão da oralidade e da escrita aparecia nos dois(filme e conto) assim como aparecia na entrevista e permitia relações com o pensamento de Benjamin...
Mas teríamos que parar o motor, nessa que seria uma agradável e proveitosa discussão sem fim. Pois não é assim mesmo que acontece com as histórias? Fomos embora, mas elas continuaram com seus enredos dentro de nossa mente...
Célia Ribeiro
Aguardamos de novo os comentários de vocês. Lembrem-se de que esse texto é continuação do anterior. O que a leitura dos dois os fez pensarem? Que outras reflexões e relações ainda podem ser feitas a partir do pensamento de Walter Benjamin? Opinem!

8 comentários:

Adriana Hoffmann disse...

Célia,
Seus dois textos contam muito bem o percurso que fizemos nesse debate/análise inicial.Parabéns! Aguardo as opiniões e sugestões do restante do grupo e de quem realizou a entrevista... Han...Ahnn... Vamos ver se eles aparecem para nos dizer suas impressões.
Beijos,
Adriana

Célia Ribeiro disse...

Obrigada Adriana,
Só procurei, de uma maneira mais informal,narrar essa experiêcia pela qual passamos eu, você e Monique.
Com certeza o nosso próximo encontro com a presença do restante do grupo também dará muita discussão.
Bjs

Adriana Hoffmann disse...

E foi mesmo, né Célia?
O grupo quando se junta fica "afiado". Vocês estão ficando cada dia melhores!!
Beijos,
Adriana

Anônimo disse...

Nossa, Célia! Que textos maravilhosos! Eu creio que ainda há muito o que se discutir sobre este assunto, mas acredito que não há nada mais rico e interessante do que sentir que um texto não foi só escrito e sim vivenciado.
Esse é o desafio do autor. Saber passar sua emoção, sua experiência através da leitura.
É um exercício? Talvez... Mas quando há vida nas palavras, acontece naturalmente.
Você desmostrou bem que sabe o que é isso. Parabéns!

Luciene Figueiredo

Monique Carnevalli disse...

Célia seus dois textos estão maravilhoso. Você retrata de uma forma emocionante a experiência que nós vivenciamos. Bjs Monique.

Célia Ribeiro disse...

Obrigada Monique, você contribuiu com a sua participação, estando presente no texto.
Bjs

Adriana Hoffmann disse...

Que bom ter você de novo por aqui, Luciene!Fico feliz! Que saudades de você...
A Célia caprichou mesmo!
Beijos,
Adriana

Célia Ribeiro disse...

Obrigada Luciene,
Esse texto só foi possível porque, especialmente naquele dia, estávamos muito sintonizadas, isso acontece as vezes com todos nós, em determinados momentos. Foram momentos verdadeiramente vivênciados e compartilhados.
Abraços Célia