quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Garcia Lorca, em todos os sentidos...

Depois de várias horas de visita a Alhambra – antigo palácio e complexo de fortificações dos monarcas islâmicos do Reino de Granada, ao sul da Espanha, em posição dominante no alto de elevação arborizada, num deslumbramento imenso ante o potencial humano movido pela espiritualidade, encontramos divulgação de espetáculo a ser apresentado à noite, em los Jardines del Generalife ou Jardins do Paraíso, que compõem o conjunto arquitetônico de Alhambra.
Segundo o folheto de divulgação, teríamos a apresentação da obra de García Lorca “ Poeta en Nueva York”, com grupo de danza de Blanca Li, renomada coreógrafa granadina, atual diretora do Centro Andaluz de Dança, premiada nos Estados Unidos, na França, na Alemanha. Todas as raízes da dança andaluza, entremeadas pelos gnaouas marroquinos surgem no palco aberto, sustentando excertos do texto de uma conferência de Lorca sobre Poeta em Nova York.
Não lhes vou dizer o que é Nova York por fora...nem vou lhes narrar uma viagem, mas sim minha reação lírica com toda sinceridade e sentimento, sinceridade e sentimento dificílimas aos intelectuais mas facílima ao poeta...nos incita Lorca. Eu, só e errante, esgotado pelo ritmo dos imensos letreiros luminosos de Times Square, ...pelo imenso exército de janelas, donde ninguém tem tempo de contemplar uma nuvem ou dialogar com essas delicadas brisas que ternamente o mar envia, sem receber jamais uma resposta... continua ele em seu desafio.
Essas reflexões nutriam meus sentidos, todos, de maneira a perceber o perfume das tuias altíssimas e esguias que pareciam querer abraçar a lua cheia, que teimava em ofuscar o espetáculo. Perfume das laranjeiras e jasmins misturado a flores diversas se integrava aos sons do sapateado, às cores das vestimentas, ao silêncio da reflexão sobre temas tão longínquos, mas tão atuais. Se Jardines del Generalife significa jardins do paraíso, posso lhes dizer que me senti mesmo fazendo parte dele, no incessante delírio que mistura desejo, satisfação, realização e tristeza, por saber que tudo passa, sem que se consiga retomar o tempo.
Sandra La Cava - texto escrito a partir de uma experiência vivida em sua visita à Espanha. Granada, julho de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom