sexta-feira, 13 de março de 2009

Entrevista com Eliana Yunes (trecho 2)

Mais um pouco da entrevista para vocês...
SESC-Rio: Como poderíamos desmistificar a questão da literatura, da “alta literatura”, nas ações de incentivo à leitura de modo que, outros textos, outras linguagens, possam também ser consideradas, utilizadas e incentivadas?
ELIANA: O que precisa ser desmistificado a meu ver não é a literatura popular ou erudita, oral ou clássica – e o preconceito vai de um a outro lado. O que urge transformar é o modo de apresentação e de convívio com a linguagem literária: ela é um dos suportes mais fortes da experiência humana acumulada nas práticas culturais de diferentes tradições e tem sido mantida prisioneira de um saber muito específico, acadêmico, que tem seu valor, obviamente, mas não pode/deve impedir que a literatura seja consumida com interesse e disponibilizada para interação múltiplas. Como o cinema e as mídias (digitais ou não) foram ofertadas à recepção sem teorias prévias, o acesso aos públicos perdeu as barreiras de controle. Contudo estas linguagens se sofisticaram e tem uma leitura cada vez mais exigente de reflexão, debate, associações.
Assim, qualquer programa de incentivo à leitura, como prática cultural, demanda de qualquer suporte e de qualquer linguagem uma forte disseminação em exercícios de compartilhamento, com mediadores despojados que saibam provocar o fascínio da interação proposta pelas formas culturais e artísticas. A questão é passar da leitura solitária para a leitura solidária do livro à tela.
SESC-Rio: Como acadêmica e pesquisadora da literatura e das linguagens, que críticas você faz às pesquisas de leitura?
ELIANA: As pesquisas de leitura, dentro e fora da academia, dependem de ampla divulgação e debate. O problema está nas interpretações dos dados, nas leituras que se fazem, cruzando ou não as informações que podem revelar distorções nos resultados apresentados. O brasileiro certamente lê ainda que pouco, mas o quê? Não se trata de discutir Paulo Coelho mas tudo o mais: as revistas, programações de TV, seus horários de disponibilização de cultura e informação, o preço do cinema, do livro, do teatro, a oferta de eventos e o acesso às bibliotecas, midiatecas, espaços culturais. Hoje o tecido cultural é muito rico e complexo; ninguém é culto ou cultivado porque sabe ‘só” literatura. O livro na escola é muito mal tratado. Na vida familiar, objeto de luxo ou supérfluo. Os resultados de pesquisa meramente quantitativos escondem realidades que demandariam mudanças profundas na disseminação das práticas de leitura.
Fonte: Livro, leitura, literatura... Eliana - Entrevista realizada com Eliana Yunes. Revista do SESC-Rio, ano 1, n° 5, novembro de 2008.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do blog. Espaço interessante, sobretudo em matéria sempre atual. Obrigado, Adriana, por ter gostado do meu conto...como descobriu o blog do clube do conto?

Anônimo disse...

Oi André,
Descobri através da lista Cultura e infância de que participo. Divulgaram o blog lá. Parabéns pelo trabalho! Aviso quando postarmos o seu conto,OK?
Beijos,
Adriana

Drika disse...

Admiro muito o trabalho de Eliana Yunes de quem já tive o prazer de ser aluna e com quem convivi durante um período. Ela tem um livro muito bom chamado "Pensar a leitura" da editora da PUC.
Dri, retomei meu blog que ficou meio paradinho. Me desanimei com os poucos comentários, juntou com a vida meio corrida e ... deu aquele silêncio. Mas é gostoso aquele espaço e vou continuar. beijo

Anônimo disse...

Que bom Dri! Boas notícias!
Beijos,
Adriana

Anônimo disse...

O tema leitura merece uma atenção especial por parte dos educadores. Nossas crianças precisam ser incentivas à leitura desde muito cedo.
Porém leitura não acontece só em materiais impressos, as informações estão todas aí, nos jornais, revistas, internet, TV enfim por toda parte, mas podem e devem ser discutidas dentro e fora das salas de aula, com as crianças, os jovens e os adultos, para que não sejam absorvidas sem uma maior reflexão.
Gostei muito da publicação dessa entrevista no blog.
Abraços, Monique.

Anônimo disse...

Muito bom aparecer por aqui, Monique!!
Beijos,
Adriana